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A Arte do Ser | Carta de um errante

Por: Xenna Gheno
19/12/2018 16:11 - Atualizado em 19/12/2018 16:11

Eu estou morrendo... Engraçado... Que sinto-me morrer exatamente como uma estrela... Que se apaga... Sozinha... Fria... E sem luz... Envolvida por uma escuridão... Em um sem fim...

Eu não estou doente e nem tenho 90 anos... Sou jovem, saudável, tenho dinheiro, facilidade para muitas coisas, mas hoje estou morrendo...

Estou em frente a um rio, e agora faz 0 grau aqui na Itália... Há 2 dias estava em uma praia deserta no litoral de Santa Catarina, com 40 graus de temperatura, e meu coração pedindo para ficar lá... Lá em baixo de uma árvore com a morena que me apaixonei... Na barraca sem dinheiro, sem luxo... Um sonho... Para as pessoas normais isso pode até parecer desafiador, mas para mim era minha zona de conforto, e dessa vez eu tinha que me enfrentar... Tinha que me escutar... Não fugir de mim...

Por isso nesse momento que a escuridão me envolve e eu não tenho mais luz nenhuma minha única vontade é de me jogar nesse frio congelante, sem roupa, e esperar a morte vir... O fim chegar...

Sim... Dessa vez sim... Vou me jogar...

A agua é congelante, mas não me faz mal... Não tenho medo e estou flutuando junto à correnteza vendo o céu, que por muitas vezes meu deu força... Me deu o astral...

Começo a afundar... Penso na vida... Penso o quanto ela é preciosa... Lembro de outras escuridões, que a luz vinha até com certa facilidade... Sempre amei atravessar períodos de tristeza, porque cada vez que volto à luz, ela é sempre mais forte... Me torna forte, mais alegre, mais verdadeiro...

Mas dessa vez não...

Estou afundando e não vejo luz alguma... Não vejo razão para viver... Me sinto feio, sujo, menor, pesado...

Chego ao fundo do rio, já não sinto mais nada... Nem frio, nem dor... Estou apagando... Tudo que aprendi, senti, agora já não importa, pois não sou nada, não tenho nada, não sei nada...

Eu morri!

No exato momento que tudo se apaga, tudo fica claro, nítido, consciente... Como se em fração de segundos a mente voltasse a me obedecer, e meu espírito voltasse a se acender em chamas... Mesmo no fundo do rio começo a escutar pássaros, já tenho um motivo para amar... e quando volto a superfície já começo amando.. Não visto a roupa a sair, não tenho frio, não tenho pudor... As pessoas que antes nem me percebiam, me abraçam e cantam. A cidade, o mundo, a montanha, tudo vibra em uma melhor frequência...

Me sinto, limpo, puro, novo.

Novo...

O novo sempre é um bom começo... Um primeiro passo...

Acho que tinha perdido o equilíbrio buscando ser grande de mais... É bom ser grande... Mas sem equilíbrio de nada adianta... Gostei tanto de praticar coisas que me tornavam grande que esqueci de me equilibrar, mas não me culpo... Pois não algo simples... Temos que entender o crescer... Temos que entender que às vezes para crescer temos que desiquilibrar... Às vezes temos que correr, às vezes temos que parar... Às vezes voar... E cada passo avante o morrer e o equilibrar e o voar ficam mais intensos, melhores... Por isso mais difícil...

Pois é muito mais fácil equilibrar um cabo vassoura velho do que um tronco de uma árvore nobre...

Estou crescendo e sinto o que me faz grande, o que me faz pequeno... Gosto de praticar amor, compaixão, humildade, honestidade, disposição, isso entre outras coisas me torna grande. Não gosto da preguiça, da raiva, da inveja, da avareza, do fanatismo, do apego, isso, entre outras coisas, me torna pequeno... Mas somos humanos... E ninguém sabe nada... A única certeza é que estamos morrendo... E nessa história de ninguém saber, muito menos eu, resolvi contar e fazer a minha... A minha vida e a minha história...

Itália, 10 de janeiro de 2015


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